A Polícia Civil de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, busca informações sobre o paradeiro de Elisângela Silva Paião, de 47 anos, esposa de um fazendeiro assassinado a tiros, no último sábado, 24, quando estava internado na Santa Casa da cidade.
O produtor rural Ailton Braz Paião, de 54 anos, foi morto pelo policial militar Marcos Francisco do Nascimento, de 30, que se matou em seguida. Conforme a investigação, o PM seria amante de Elisângela e, três dias antes, já teria tentado matar o marido dela em uma emboscada. Para a polícia, Elisângela é cúmplice do criminoso. Ela teve a prisão decretada e é considerada foragida.
O assassinato e todo seu enredo assustaram os 8.228 moradores de Iepê, no extremo oeste paulista, onde Paião e a mulher moravam. Em sociedade com dois irmãos, ele mantinha uma fazenda de cultivo de grãos a 5 quilômetros da área urbana.
Por volta das 18 horas, Paião foi ao local e viu o carro descrito pela mulher parado próximo a um canavial. Quando desceu de sua caminhonete e se dirigiu ao automóvel, um Ford Escort, duas pessoas encapuzadas saíram do veículo e o atacaram.
Ailton Paião foi atingido por quatro tiros na cabeça e uma facada nas costas. Os agressores levaram a caminhonete e o celular dele e fugiram levando também o carro. A picape foi abandonada a cerca de 800 metros do local.
De acordo com o delegado Carlos Henrique Bernardes Gasques, que preside as investigações, mesmo ferido, o fazendeiro conseguiu pedir ajuda. Levado ao hospital, ele ainda conseguiu descrever as características do veículo usado na emboscada.
O fazendeiro contou que, desde o dia 14 de setembro, estava conversando pelo WhatsApp com uma mulher que se identificava como Sara Maria e que seria moradora de Iepê. As conversas passaram a ter conteúdo mais íntimo, o que o levou a não suspeitar de uma possível armadilha quando ela pediu ajuda com seu carro. Para o delegado, a própria esposa do homem teria se passado pela suposta Sara Maria no aplicativo.
Segundo ele, logo após o socorro ao ferido, os investigadores acharam a caminhonete e passaram a buscar o carro. “Descobrimos um Escort que tinha o capô e a lataria queimados pelo sol, como foi descrito pela vítima. Em contato com o proprietário, ele informou que tinha vendido o veículo e chegamos ao último dono, o policial militar Marcos Francisco.”
Na sexta-feira, 23, o carro foi apreendido, e o policial foi ouvido, disse que o carro estava com outra pessoa naquele dia, e não chegou a ser detido, embora já circulassem informações na cidade sobre um possível caso amoroso entre ele e Elisângela.
No sábado, 24, por volta das 10h30, segundo o Departamento de Polícia Judiciária do Interior – 8 (Deinter-8), o soldado adentrou a Santa Casa, se identificou como policial na portaria e disse que pretendia conversar com o fazendeiro, que passaria por uma cirurgia para a retirada das balas no dia seguinte.
Sua entrada foi liberada e, já no quarto do paciente, encontrou uma irmã da vítima e pediu que o deixasse a sós com a vítima, pois estava investigando o crime. “Ele disse que queria conversar com a vítima e, neste instante, realizou os disparos contra Ailton e, logo em seguida, suicidou-se com um disparo na cabeça. Ambos vieram a óbito no local”, diz o relato do Deinter. O fazendeiro foi atingido por dois tiros.
Para o delegado Gasques, a mulher planejou a morte do marido para ficar com o amante. “A linha de investigação é no sentido de que ela articulou com ele a emboscada e a morte ou, pelo menos, instigou o suposto amante a matar o Ailton”, disse.
O que reforça essa hipótese é que, quando o PM se suicidou, após matar seu marido, Elisângela teria confidenciado aos investigadores que gostava muito do soldado e estava se separando de Paião. A mulher não compareceu ao velório e sepultamento do marido. Diante das evidências, o delegado pediu a prisão dela.
Na última segunda-feira, 26, a Polícia Civil deflagrou uma operação para cumprir os mandados de prisão provisória e de busca e apreensão nas casas da mulher e da segunda pessoa que havia participado da emboscada contra o fazendeiro.
O suspeito, de 47 anos, foi preso em sua casa – ele não teve o nome divulgado – e vai responder por tentativa de latrocínio. Os policiais também foram à casa de Elisângela, que estava vazia.
Foram realizadas buscas em Porecatu (PR), onde a mulher tem parentes. Além da polícia paulista, as polícias do Paraná e do Mato Grosso do Sul estão no encalço da fugitiva. As polícias rodoviárias estaduais e a Polícia Rodoviária Federal também foram alertadas.
Crime chama atenção de pequena cidade do interior
Na pequena Iepê, o crime está em todas as rodas de conversas. A família Paião é conhecida na cidade e, além de ter uma propriedade rural no município, arrenda terras em outros estados para o cultivo de soja e milho. A empresa rural, aberta em 2013 para o cultivo de cereais, é considerada de grande porte.
O crime e suas circunstâncias dominam os assuntos nos bares e esquinas. O casal de filhos do produtor rural assassinado, uma jovem de 20 anos e um adolescente de 16, moram em Londrina, no oeste paranaense. A reportagem procurou os familiares, mas não obteve retorno.
O advogado Jair Vicente da Silva Júnior, que assumiu a defesa de Elisângela, disse nesta quarta-feira, 28, que ainda não teve acesso a todas as peças do inquérito, por isso considerava prematuro se manifestar.
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