O documentário “Práticas de Cura, Memórias de uma Benzedeira”, do artista jacarezinhense Tiago Angelo, foi exibido no primeiro Festival de Audiovisualidades do Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Mac-PR), em Curitiba. A produção aborda a trajetória de vida da benzedeira Maria Aparecida da Silva Araújo (dona Cida) e busca valorizar a religiosidade popular, a prática do benzimento na sociedade.
O curta-metragem, produzido em 2020, foi exibido também em evento promovido pelo Museu de Arte e Cultura Popular da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), em Jacarezinho, na última semana. “Foi uma grata notícia a seleção desse documentário para compor o Festival do Mac. Uma grande alegria. A beleza desse curta está na vida que narra e emociona pela expressão superlativa da pureza. Agradeço aos amigos Luciana Evangelista, que escreveu o projeto, o argumento desse documentário; e Jorge Eduardo Pires, que trabalhou comigo na finalização e na colorização dessa produção”, disse Tiago.
O professor do curso de Filosofia da UENP, Alexander Gonçalves, comenta que o documentário é uma ode à simplicidade. Ele partilha a experiência ao assistir o curta durante a sessão realizada na UENP. “De início, um plano longo, lentamente, nos coloca no pequeno e místico espaço em que vive e trabalha dona Cida, a benzedeira. A belíssima fotografia se move no ritmo moderado de uma música minimalista que é atravessada pelos sussurros de uma repetida reza. As palavras, pouco reconhecíveis, se tornam mágicas sob a luz que emana das mesmas velas destinadas a curar”, descreve Alexander.
“O resultado é uma profunda imersão nesse pequeno mundo de simplicidade e mistério em que a história de uma vida profundamente marcada pelo dom é contada. O modo sutil como as perguntas são articuladas dá à entrevista quase um tom de confissão. Com palavras simples e belas, dona Cida confessa que viveu! Em Práticas de cura: memórias de uma benzedeira, Tiago Angelo nos revela algo que está no fundo da cultura e da vida de nosso povo, mas só vista por olhos tão sensíveis quanto atentos: a distinta beleza que há na simplicidade”, partilha.
Para o diretor de Cultura da UENP, James Rios Oliveira Santos, no documentário, o artista conseguiu captar a poesia imanente ao ato de benzer. “O Tiago é um artista muito sensível. Há, em seu filme, um olhar profundo que prevalece sobre uma espiritualidade que, socialmente, não é reconhecida. Seu trabalho, portanto, cumpre essa função: de fazer com que o benzimento esteja ao alcance de outros olhos e de fazer chegar aos corações abertos e desejosos por revisitar seus conceitos. ‘Práticas de cura’ é, em suma, uma forma preta de conceber uma cidade que carece de se abrir para diversidade religiosa nela radicada”, pontua James.
O artista e produtor cultural Renan Bonito destaca que Jacarezinho tem vivido um crescente lindo na produção audiovisual e, segundo ele, o documentário “Práticas de cura” é um dos grandes filmes realizados nos últimos anos na cidade e na região. “Tanto na qualidade artística quanto temática, ao trazer uma prática cultural que resiste ainda em pequenos espaços da sociedade, mas dada a sua importância na construção da nossa cultura brasileira (e jacarezinhense) hoje é um patrimônio imaterial. O sucesso do filme e sua qualidade se destacaram tanto que tem mais de 50 mil visualizações no YouTube”, ressalta Renan.
Para o Festival de Audiovisualidades, o documentário “Práticas de Cura, Memórias de uma Benzedeira” foi selecionado para participar da mostra “Diversidade, Memória e Resistência”, que tinha o propósito de destacar perspectivas sub-representadas no campo audiovisual, contribuindo para a conscientização e o diálogo sobre questões de raça, gênero e sexualidade.
“A obra (Práticas de Cura) é um registro de valor cultural e histórico muito grande. Foi exibida para que as pessoas o assistissem e se envolvessem com a história de vida da personagem principal, a dona Cida, benzedeira da cidade, de forma muito cuidadosa e afetuosa, é um ‘eleretrato’ com muito respeito a crença e a uma história de vida que se tornará cada vez mais raras. Que bom que tivemos a oportunidade de fazê-lo parte do festival!”, frisa a artista e uma das curadoras do festival, Aricia Machado.
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